quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Transtorno?

       Ele guarda sua carteira na mochila. Imediatamente ouve que não guardou. De primeira acha absurdo e não leva em consideração. Escuta outra vez, passa a duvidar de sua certeza, começa então o processo de questionamento: - Guardei ou não guardei?    - Pensa:  - Lógico que a carteira está guardada!, - fica em paz, três segundos depois algo (que talvez seja sua consciência) lhe diz: - Você não guardou nada! – em contrapartida ele cogita: - Talvez eu não tenha guardado.  - Decide então checar se está guardada ou não, abre a mochila, está lá. Fica em paz, três segundos depois  é dito que foi impressão dele, que não armazenou nada na bolsa. Fica angustiado, abre novamente: ela está lá! E a história toda se repete. Várias checagens. Parece idiota? Pode parecer, mas não é. Incomoda, dói.

      Obsessão e impulsos o controlam, invadem sua mente todos os dias., fazem isto de forma repetitiva, rotineira, cotidiana. Conviver com isso às vezes é mais duro que conviver com outros. As palavras incomodam, digo as palavras ditas por sua consciência, que por vezes o faz duvidar de si.  O pior e mais preocupante é que elas (as palavras) não vêm sozinhas, vêm acompanhadas de sentimentos que incomodam: medo, angústia, culpa, desprazer... parece que não podem se auto-sustentar , não conseguem viver sozinhas, precisam de complemento, um complemento impalpável que pode ser percebido apenas pela sensibilidade de quem os recebe. Caos. Esforçando-se, ele tenta ignorá-las, tenta muito, mas acaba caindo. Isso faz parte da rotina. As lutas algumas vezes parecem que são em vão, um desestímulo vai como visita quase todos os dias. Vontade de parar de lutar contra. O que fazer quando a luta parece inútil? Lutar mais ainda! E “de elástica minha alma da de si mais além”.

      Amanheceu. O começo de um dia pode ser encarado como um recomeço. Uma nova oportunidade de vencer essa “implicância” dele com ele mesmo. Anoiteceu: tudo de novo. A luta pareceu se intensificar, parece que as ordens de hoje foram mais freqüentes do que as de ontem. Pensa em desistir, mas se há desistência fica terrivelmente mais insuportável acordar no dia seguinte. Quase que por instinto decide acordar amanhã. –É! Eu vou! – Ele diz ao espelho. Então percebe que no espelho está seu reflexo, enxerga que quando fala com o espelho está, na verdade, vivenciando um monólogo. Encontra a saída: decide aconselhar-se a partir daquele momento em todas as próximas oportunidades. Afinal, pensa o assolado: - Eu conheço minha luta. Posso dizer a esse cara no espelho como foi meu dia e tentar convencê-lo a não agir da mesma forma que eu quando caio. – Por um segundo sentiu paz. Mas só por um segundo mesmo, porque imediatamente algo diz: você esqueceu de fechar a torneira da pia do banheiro. Em resposta a voz ele diz ao espelho: - EU FECHEI A TORNEIRA! FECHEI! EU LEMBRO! – o resultado: Vitória. Conseguiu vencer por 10 segundos até que voltou ao banheiro para fechar o que lhe disseram estar aberto. Estava fechado, mas pensou: - Não fui à toa. Pelo menos agora eu tenho certeza de que está tudo okay. A certeza foi embora em 5 segundos. Incomoda: e a resposta a esta incógnita é: Sim. Transtorno obsessivo compulsivo. Talvez este cara seja eu, talvez você.
  



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Resumir é útil?


        Muitas pessoas não entendem ou procuram entender a função do apóstrofo (‘). Acho curioso quando entro num site, ou em redes sociais e o vejo sendo usado de forma inadequada. Será que é tão difícil assim procurar entender antes da ousadia de experimentá-lo? Sei lá! Cada um com seu cada um. Mas, não é sobre a ausência de consciência no uso desse sinal que pretendo falar hoje. O apóstrofo tem a função de suprimir um ou mais fonemas. Por exemplo: “Pau d’água” (a letra  e foi  resumida ao apóstrofo) .Admiro os que usam adequadamente, mas tento compreender aqueles que usam errado, r’s.

        Não acho que a vida deva ser resumida. Não posso me transformar num ser que suprime algumas experiências, até porque eu acredito na utilidade de tudo o que acontece, e mais: creio que resumi-las  é idiotice . Como enxergar inteligência no “ato” de esquecer algo que pode servir? Nós somos “um tesouro quase perdido” e as adversidades e acontecimentos ruins ou bons são os mapas, é possível ter vários deles para um só caminho. Como vou dobrar um dos mapas e guardá-lo no bolso se o objetivo é achar a recompensa?! Que burrice agir assim!  É natural  que haja o desejo de apagar alguns arquivos salvos de forma privilegiada, mas eles podem ser aproveitados.  Minhas instruções: Abra o mapa, leia e releia o conteúdo, todos os dias, se for possível. Não há mal nisso!

       O Significado de trauma é “Agressão ou experiência psicológica muito violenta”. Um trauma nunca é esquecido, aprende-se a conviver com ele. Quem gosta de resumo tem preguiça de ler, de enxergar. Não se encontra felicidade na ausência de problemas, e sim apesar dos problemas. Concordo que não lembrar de determinadas situações, às vezes, evita interiorizações conturbadas, mas mesmo assim acredito firmemente que se usadas de forma adequada podem abrir portas, janelas e qualquer outra oportunidade para que se escape das prisões invisíveis. "Não existe crescimento sem a dor do aprendizado." Crescemos à medida que avançamos , e isto é o que há.
        
         Hoje saí com uma amiga, sentamos, conversamos, cantamos... foi bom, mas senti aquele gosto estranho, aquele sabor de nostalgia. Lembrei de coisas antigas, que me causaram um sentimento estranho. Que eu ,por muito tempo, não quis lembrar. Lembrei. E não me senti pior por isso, acabei fazendo uma rápida reciclagem enquanto estava sentado lá com ela.Foi bom. E é bom reciclar. É uma pena que eu tenha me martirizado tanto até aprender que os sofás altos são os mais confortáveis, e para que eu tenha um sofá bem acolchoado é necessário alimentá-lo, pôr muita espuma em seu interior. Acho que meu sofá ficou mais confortável hoje, quero que amanhã seja assim de novo. Quero que seja mais alto a cada dia, que ele se torne cheio, alto e ao mesmo tempo leve. Que eu me torne política e ecologicamente correto comigo mesmo, que eu recicle o lixo que esteve de certa forma, armazenado em mim. Eu tenho perguntas, porém as respostas também sempre estão aqui, e a da incógnita de hoje é: nem sempre. Nem sempre preciso resumir, nem sempre o apóstrofo é útil.




                     Como encher o  sofá se você tenta jogar as espumas fora?