sexta-feira, 24 de junho de 2011

Médio?

    Passei esta manhã lendo e relendo um texto sobre Manuel Bandeira, cheguei à triste conclusão de que nasci na época errada. Na semana de Arte Moderna, de 22, durante a leitura do poema “Os sapos” ,do autor citado acima, houve reação. tudo bem que esta “contrapartida” era contrária àquilo, àquele pensamento, àquela forma, àquela nova arte, mas houve reação! O mais lindo disso é que o texto é todo trabalhado em irônia. Entra aqui a questão da plurissignificação. As pessoas conseguiram compreender, isso aconteceria hoje? Posso concordar ou não com a postura escolhida pelos ouvintes enquanto Ronald de Carvalho lia o poema, mas me orgulho daquela parte da humanidade simplesmente por estar ali e por conseguir compreender (em massa)  o implícito naquela obra.  Às vezes tenho a impressão de que as pessoas dos séculos passados pensavam mais, reagiam mais, criavam mais, escreviam mais, entendiam as irnonias e as sátiras dos escritores à época e liam muito além do atual. Hoje as pessoas têm dificuldade de ler o jornal "O Globo". Mereço ter nascido nessa fase da humanidade? E quantos leem o "JB"? E o "Meia hora"? (R's.,só rindo) ? Admiro a percepção, acho linda a capacidade que Deus deu ao ser humano de compreeder, mas fico com a forte impressão de que alguns não sabem que são providos disso, dessa capacidade. Acho horripilante o fato de alguém ter acesso ao conhecimento, à cultura , à leitura, à compreensão e mesmo assim escolher não fazer. Aceito que todos temos o direito de fazermos o que quisermos de nossas vidas, vivemos num país “democrático” (destaque às aspas antes e depois da palavra), e baseado nisto tenho o direito de achar horrível e criticar o quanto eu quiser. Fico com o pensamento de que “os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem”. Os verdadeiros desorientados são aqueles que têm o direito ao pensamento e e não pensam. Pão e água não é o suficente. Minha geração “está comungando com a barata” e eu tenho que observar isso enquanto vejo “emergir o monstro na lagoa”.  Não quero fazer parte da grama que só serve para deixar o jardim verde, não aceito ser pobre, pequeno e medíocre se posso mais. Minha esperança? A educação. Acho mediocridade um termo carinhoso , se tratando de alguns.

Segue o link com o poema, gente.

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/sapos.htm

quinta-feira, 9 de junho de 2011

?

         Eu gosto de ônibus, gosto porque sinto as pessoas nele, neste tipo de transporte. Gosto de passar pela roleta, sempre gostei, sempre quis passar por ela quando possuía o direito de não precisar atravessá-la. Sempre sonhei em empurrá-la com o meu corpo e meu corpo grita quando faço isso. Ele pede mais. Eu gosto de pagar passagem, me sinto dono deles, do ônibus e da roleta, me sinto seus responsáveis. Eu gosto. Eu me atraio por canetas. Gosto delas, quando era criança sentia prazer, parecido com orgasmo, mas não sexual, quando encontrava. Meu corpo tremia, minhas mãos pediam. Eu adorava canetas, meus olhos ardiam com a possibilidade de ter mais uma. Eu amo sorvete, não pelo sabor, mas pela essência. Pergunto-me quanto de energia é necessário para fazer com que ele chegue àquela textura. Acho um absurdo e simples ao mesmo tempo. Gosto do simples, gosto de sorvete. Gosto de escrever. Escrevo desde bebê, mas nesta época nem eu compreendia os signos feitos por mim, compreendo pouco até hoje. Gosto de pão francês. Gosto mesmo. Adoro chegar à Padaria e pedir: “Por favor, me dê um pão francês”, me sinto importante por ter o direito de comprar algo que tem em seu nome outra nacionalidade apesar de ser feito na rua de minha casa. Gosto. Gosto de ônibus, gosto de roletas, gosto de canetas, gosto de sorvete, gosto de pão francês. Gosto das coisas simples da vida. Gosto da vida. E eu sou dono delas todos os dias, posso comprá-las. Mas e as outras? As que não consigo comprar e se vão todos os dias?



segunda-feira, 23 de maio de 2011

Por que ela continua feia?

         Você é feia! - Lhe disseram. Ela quis sair, sentiu vontade de não ficar  perto daquela pessoa, na verdade nem tinha pensado no que haviam dito.Só não queria ser o centro da atenção. A vontade de sair estava dentro dela, mas não saiu. Ficou.  As festas de família eram dolorosas, mesmo sem saber direito do que se tratava a dor. Na verdade acredita-se que saber o significado disso é uma questão de instinto. Sempre soubemos, ninguém nos ensinou, sempre saberemos. Os encontros familiares, que para muitos são agradáveis, para aquela menina era cansativo, perturbador. Quieta, sozinha ela ouve: -Mas que menina feia!-Pensou e imediatamente não quis mais pensar. Não quis. Até compreendo. Às vezes nem eu quero. Passou o tempo. Ela continua horrível fisicamente, e de tanto ouvir: tornou-se feio seu exterior, as pessoas fizeram e fazem isso com ela. Num dia, sua feiura chamou tanto a atenção que lhe foi indagado: -Qual teu nome?! -Ela respondeu: -Sociedade! -Seu nome é sociedade. Às vezes tenho nojo dela. Mas isto porque quero e assim  permanece com a fealdade.


Aceitar o Caos?

        Espero que me peçam mais do que eu sinto capacidade de dar. Quero que me exijam mais, que me cobrem mais intensamente, que queiram mais de mim, o aprendizado virá daí. Meus cálculos , com certa freqüência, dão errado. Calculo que de algo aparentemente ruim virão conseqüências ruins. Não é assim. Da cobrança, se eu quiser, vem o esforço, e se eu me sinto incapaz vou “sambar” muito para conseguir,e o processo que chamamos de “tentativa” me causa crescimento, e este. é mais importante que o resultado. Não tiro as autoridades do resultado, mas ele é apenas o produto da tentativa. Todos os dias da semana eu sou transportado por ônibus até meus destinos cotidianos. A tal peregrinação diária (que atravessa avenidas, me obriga a conviver com pessoas estranhas e ,às vezes, grosseiras, faz com que eu perca horas em engarrafamentos etc. ) seria apenas mais um martírio se eu não me esforçasse pra ver nela somas, resultados. Não uso transporte coletivo porque quero, mas porque minha condição me obriga. Me recuso a olhar para isso de forma pessimista. Prefiro acreditar que a vida ,TODOS OS DIAS, me obriga a conviver com realidades diferentes, pessoas diferentes, humores distintos e adversidades interessantes. Acreditar nisso me motiva a encarar a vida de passageiro no dia seguinte. E sem hipocrisia? Eu quero mais! Quero mais aprendizado. Mesmo que este venha de situações que aos meus olhos sejam incômodas. Que minha realidade me obrigue a fazer, a crescer , até no pequeno, no chato, que ela venha me pedir além do que eu posso dar.

      Se eu estiver em alto mar e queimarem o meu navio, será preciso que eu me esforce para sobreviver e eu quero! Quero que queimem , destruam meus navios. Que minha vida seja elástica, que se dê, que eu me dê. Que enxergar com pessimismo os fins finde-se. Que a minha morte seja aceita até por mim. Não a morte física, mas aquela que não pode e não pôde ser vista. Ele morreu. O meu antigo eu morreu. Hoje eu aceito o caos. Se carece de definição: estou leve.



Conseguiram sacar a intertextualidade com as músicas do Jorge Vercilo? Seguem os links que levam às letras e aos vídeo com ele cantando.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Como sou?


       Acabei de ler um livro, de Clarice Lispector, estranhamente seus livros me causam um sentimento que não sei classificar, apenas sinto. Isso acaba intensificando minhas perguntas. É estranho. Hoje não estou bem. Há alguns anos que sinto ausências. Acho que sempre senti, na verdade. Essas ausências me causam vazios. E odeio quando me dizem que esse vazio somente Deus pode preencher. Deus já preenche muita coisa em mim, seria ótimo se  ele ocupasse todas as partes daqui, mas não é bem assim que funciono. Não que a coisa em mim funcione de uma forma errada, só é da minha forma, só é a minha forma. Sinto ausências e isto não significa distância de Deus. A vida cristã me agrada, mas como todas as outras maneiras de se viver: me incomoda às vezes. Acredito. Acredito no cristianismo e decidi seguir essa linha, mas estou cansado. Voltando ao assunto do início a tristeza implícita na obra de Lispector sempre me chamou atenção, acho que eu me sentia consolado, pode ser pelo fato de eu sempre me sentir diferente dos outros. Não só por comportamento, mas por sentimento de vida mesmo, há um trecho de um livro dela que diz: “Sou feliz na hora errada, choro enquanto todos dançam...”, tudo bem, não acho que eu seja infeliz, nem que sinta felicidade quando não deveria, até porque eu que tenho que saber quando devo ou não senti-la, quero dizer que não me considero triste, só que de vez em quando me sinto desambientado aqui. Aqui, no meio das pessoas (devo procurar os animais então? R’s..), até mesmo entre pessoas queridas. Para começar, durante a infância eu não era aceito por conta do meu comportamento. Eu não sou bruto, não sou apenas músculo. Não sei, mas parece que o pensamento da massa é que a ausência de rispidez e brutalidade significa que você deveria ter uma vagina ao invés de um pênis. Acho que , talvez,  a ausência que me é ratificada com a leitura deveria estar aqui mesmo, e quem sabe deva continuar. O mais interessante é que só noto através da leitura mesmo. Acho que “ler devia ser proibido”, r’s., a leitura abre caminhos, além disso, funciona como um despertador, te alertando que algo está acontecendo. Por um tempo me martirizei por sentir isso, mas hoje aceito. Aceito sentir essa coisa estranha que me torna estranho. Mas só aceito a classificação “estranho” por opção. “Existe” uma espécie de peixe chamada Celacanto. Os celacantos não existem mais, acreditam. É uma espécie rara, pré-histórica. Em 1997 um pescador encontrou um. Fato inédito naquele século. Eles viviam em águas profundas e escuras. Na época em que eu trabalhava com enfermagem, um paciente me disse que as pessoas muito inteligentes, pelo menos a maior parte delas, podem ter problemas emocionais, psíquicos. Existem cristãos muito próximos de Deus , eles demonstram uma sensibilidade maior, sentem mais, sofrem mais, é como um sofrimento emocional psíquico mesmo. Cheio de ousadia classifico-as como “pessoas com “problemas psíquicos mais abstratos”“.
       Geralmente, as fontes ficam no alto. No alto faz frio. Mas quem disse que precisa levar casaco? O frio , pode, ser uma estratégia de Deus. A fonte é de água quente.Quanto mais frio você sentir, mais você se aproximará do calor das águas. Quem leva casaco fica confortável, não se aproxima mais.Eu sinto esse frio (ausência citada no início do parágrafo anterior) porque estou sem casaco. As pessoas com "problemas psíquicos mais abstratos" costumam se aproximar mais das águas. Encaro como estratégia. Se sinto frio, passo por dificuldade, também é porque posso me aproximar mais da água e não ficar sentindo apenas o vapor que vem dela. Chega uma hora que o vapor não esquenta mais, ou melhor, eu não me sinto mais aquecido por ele. Chega outro momento em que simplesmente estar mais próximo da água é pouco. É necessário mergulhar nela. Estou tentando mergulhar. Está fazendo muito frio onde estou.E sempre faz.Chega outro momento em que é necessário ir para o fundo do rio, da fonte no caso. Acho que Deus quer que eu vá para lá. Por isso a presença constante do frio (ausência). Os celacantos só vivem nas águas profundas. Sou um. “O frio , pode, ser uma estratégia de Deus.” Preciso aprender a conviver comigo. Enquanto isso “o dia corre lá fora à toa, há abismos de silêncio em mim”.
       A vida social é complexa. Dentro do cristianismo ou em qualquer outro lugar. A aceitação própria é complicada da mesma forma para alguns. Aceito-me. Sou estranho, sou esquisito, mas isso não significa ausência de Deus. Pelo contrário: sinto-lhe muito! E outra: estou no mar, de vez em quando umas ondas pesadas de mágoas me cobrem. O bom de estar no mar é que as ondulações são passageiras. Admito: às vezes outras grandes aparecem seguidamente e é de certa forma desconfortável, mas nem por isso eu deixo de entrar nele (no mar). O confortante é que com freqüência este mar que é minha vida está sem ondas tão pesadas, consigo descansar e flutuar, gosto da calmaria, mas sinto falta das ressacas de vez em quando, elas me ensinam a nadar, a sobreviver, queimam meus navios para que eu me supere. Eu gosto do lirismo do oceano, não é pesado, mesmo que a inconstância da calmaria das ondas seja frequente. Gosto do zig-zag entre decadência e elegância, morte e sobrevivência. Eu sou isso. Eu sou assim. Assim sou eu. Não precisa me dizer quem é você. Digo quem sou e isso basta. Eu? Eu sou eu. Por hoje escolho apenas tirar a máscara do meu rosto. O problema não é agir hipocritamenteinconseqüente ou absurdo, o importante é que eu seja assim: como sou. Sou estranho. Muito estranho!


terça-feira, 17 de maio de 2011

"Infinito Particular"

      Cantarei a mesma música por dias, desde que esta me faça lembrar de quem tem apresentado o sentimento de forma nova. Dormirei três horas por noite e passarei o dia com sono, desde que eu tenha “perdido” as outras horas que poderiam ter sido dedicadas, a dormir, falando com quem faz com que meu sono desapareça (quase sempre,r's.). Cantarei aquela “nossa” música pela milésima vez com a mesma vontade, euforia e intensidade da primeira enquanto ela me lembrar do que temos vivido. Direi que ela é a “Monalisa” da minha vida todos os dias, mas nem sempre pela palavra falada ou escrita. Analisarei letras de músicas com sua presença, mesmo que não seja física, porque essa presença é parte da música que sou. Ela faz com que eu sinta vontade de usar apenas verbos de ação. Ela me faz, ela me traz. Ela: minha “deusa com ar de menina”

Há um mês, quinze horas e 48 minutos, nosso primeiro beijo. Nosso primeiro aniversário.



"Prazer! Me chamam de homem-aranha, seu herói." 


Humilde eu? 'magina! R's..

quinta-feira, 24 de março de 2011

Menos homem?



       A sociedade decidiu o formato de homem. O modelo de pessoa de sexo masculino ideal. Me pergunto se há algo de ruim nisso, minha resposta é não.Não. Mas como todas as outras moedas, esta também tem dois lados. O dicionário de Língua Portuguesa define como homem a "Pessoa do sexo masculino que demonstra força, coragem ou vigor.",concordo que o sexo masculino, às vezes, tem mais força física que a mulher, mais vigor, mas nem sempre demonstra mais força abstrata e até mesmo a física. E outra: a definição do dicionário é muito precária. Vale adaptá-la à realidade. Perguntei a uma amiga a visão de "pessoa do sexo masculino" que ela tem e a resposta foi a seguinte: - Ah! Definir homem é maior merda. Não que cada um funcione de uma forma, mas existem varias maneiras de um homem ser. Sem generalizações.- Levando em consideração que Nelson Rodrigues escreveu que "toda unanimidade é burra", pensando e analisando o comportamento de todos os seres viventes que convivem comigo: acho a definição e rotulação de forma generalizada e humana burra.

      Da mesma forma que faz com o homem a sociedade rotula a mulher. Tenho certeza de que se eu parar e perguntar a qualquer homem se ele concorda com as mulheres quando estas dizem que eles e todos os outros da mesma espécie são iguais e não prestam em contrapartida receberei respostas negativas a isso. Levando para outro lado e perguntando às mulheres se elas vêem com coerência as afirmativas masculinas de que elas são todas iguais e que não devem ser vistas com respeito e valorizadas sempre porque uma ( conhecida, desconhecida, uma ou mais da mesma forma que o homem) delas mereceu ser tratada assim alguma vez a resposta seria: Não! Pelo menos a maioria (sem rotular, claro!). O dicionário define a mulher como "Cônjuge ou pessoa do sexo feminino com quem se mantém uma relação sentimental e/ou sexual.", mas quem disse que as que não têm relação sexual não são mulheres? Faz sentido? Não totalmente. Você quer ser definido? Nascer pré-disposto a ser algo que as pessoas com as quais você convive decidiram?


         Não sou o padrão! E isto não me faz menos homem da mesma forma que as mulheres que não demonstram aquela sensibilidade não deixam de ser mulheres por causa disso. Quem disse, além do dicionário, que homem só demonstra força e vigor? Quem proibiu o sexo masculino de ter sensibilidade se quiser? Digam-me quem teve a idéia de que a mulher só pode ser considerada mulher se há relacionamento sexual? Quem disse que o dicionário está certo? Quem disse que ele está errado? Quem disse que o ser humano precisa ser rotulado?

        Um sujeito que não demonstra tanta brutalidade não é menos homem. A virilidade é algo que não se mede apenas pela observação do comportamento. O fato de um cara não gostar de futebol ou não demonstrar essa tal "brutalidade" exigida pela sociedade o tempo todo não significa que ele sente desejos sexuais por outro homem.

       De qualquer forma, o segredo de viver bem está em entender que "cumprir a vida é simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente",mesmo que um medíocre venha e pendure em seu rosto uma placa com uma descrição irreal a seu respeito apenas pela diferença exteriorizada por você em relação aos outros habitantes da maravilhosa merda social em que vivemos. Enfim, sou diferente, isso não me faz menos humano, nem menos homem, nem significa que sinto desejos sexuais por pessoas do mesmo sexo que eu. Sou hetero, mas sou incomum e tenho aversão à mediocridade do rótulo imposto. Não terminei este texto, acho que ele é um daqueles sem fim, que a vida escreve e continua escrevendo. Darei continuidade na próxima semana a este mesmo assunto. Termino oferecendo um cordial "VÁ À MERDA!" àqueles que tentam pendurar placas na minha cara. E a resposta? A incógnita de hoje tem como resposta: NÃO! Menos homem, não. Homem!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Transtorno?

       Ele guarda sua carteira na mochila. Imediatamente ouve que não guardou. De primeira acha absurdo e não leva em consideração. Escuta outra vez, passa a duvidar de sua certeza, começa então o processo de questionamento: - Guardei ou não guardei?    - Pensa:  - Lógico que a carteira está guardada!, - fica em paz, três segundos depois algo (que talvez seja sua consciência) lhe diz: - Você não guardou nada! – em contrapartida ele cogita: - Talvez eu não tenha guardado.  - Decide então checar se está guardada ou não, abre a mochila, está lá. Fica em paz, três segundos depois  é dito que foi impressão dele, que não armazenou nada na bolsa. Fica angustiado, abre novamente: ela está lá! E a história toda se repete. Várias checagens. Parece idiota? Pode parecer, mas não é. Incomoda, dói.

      Obsessão e impulsos o controlam, invadem sua mente todos os dias., fazem isto de forma repetitiva, rotineira, cotidiana. Conviver com isso às vezes é mais duro que conviver com outros. As palavras incomodam, digo as palavras ditas por sua consciência, que por vezes o faz duvidar de si.  O pior e mais preocupante é que elas (as palavras) não vêm sozinhas, vêm acompanhadas de sentimentos que incomodam: medo, angústia, culpa, desprazer... parece que não podem se auto-sustentar , não conseguem viver sozinhas, precisam de complemento, um complemento impalpável que pode ser percebido apenas pela sensibilidade de quem os recebe. Caos. Esforçando-se, ele tenta ignorá-las, tenta muito, mas acaba caindo. Isso faz parte da rotina. As lutas algumas vezes parecem que são em vão, um desestímulo vai como visita quase todos os dias. Vontade de parar de lutar contra. O que fazer quando a luta parece inútil? Lutar mais ainda! E “de elástica minha alma da de si mais além”.

      Amanheceu. O começo de um dia pode ser encarado como um recomeço. Uma nova oportunidade de vencer essa “implicância” dele com ele mesmo. Anoiteceu: tudo de novo. A luta pareceu se intensificar, parece que as ordens de hoje foram mais freqüentes do que as de ontem. Pensa em desistir, mas se há desistência fica terrivelmente mais insuportável acordar no dia seguinte. Quase que por instinto decide acordar amanhã. –É! Eu vou! – Ele diz ao espelho. Então percebe que no espelho está seu reflexo, enxerga que quando fala com o espelho está, na verdade, vivenciando um monólogo. Encontra a saída: decide aconselhar-se a partir daquele momento em todas as próximas oportunidades. Afinal, pensa o assolado: - Eu conheço minha luta. Posso dizer a esse cara no espelho como foi meu dia e tentar convencê-lo a não agir da mesma forma que eu quando caio. – Por um segundo sentiu paz. Mas só por um segundo mesmo, porque imediatamente algo diz: você esqueceu de fechar a torneira da pia do banheiro. Em resposta a voz ele diz ao espelho: - EU FECHEI A TORNEIRA! FECHEI! EU LEMBRO! – o resultado: Vitória. Conseguiu vencer por 10 segundos até que voltou ao banheiro para fechar o que lhe disseram estar aberto. Estava fechado, mas pensou: - Não fui à toa. Pelo menos agora eu tenho certeza de que está tudo okay. A certeza foi embora em 5 segundos. Incomoda: e a resposta a esta incógnita é: Sim. Transtorno obsessivo compulsivo. Talvez este cara seja eu, talvez você.
  



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Resumir é útil?


        Muitas pessoas não entendem ou procuram entender a função do apóstrofo (‘). Acho curioso quando entro num site, ou em redes sociais e o vejo sendo usado de forma inadequada. Será que é tão difícil assim procurar entender antes da ousadia de experimentá-lo? Sei lá! Cada um com seu cada um. Mas, não é sobre a ausência de consciência no uso desse sinal que pretendo falar hoje. O apóstrofo tem a função de suprimir um ou mais fonemas. Por exemplo: “Pau d’água” (a letra  e foi  resumida ao apóstrofo) .Admiro os que usam adequadamente, mas tento compreender aqueles que usam errado, r’s.

        Não acho que a vida deva ser resumida. Não posso me transformar num ser que suprime algumas experiências, até porque eu acredito na utilidade de tudo o que acontece, e mais: creio que resumi-las  é idiotice . Como enxergar inteligência no “ato” de esquecer algo que pode servir? Nós somos “um tesouro quase perdido” e as adversidades e acontecimentos ruins ou bons são os mapas, é possível ter vários deles para um só caminho. Como vou dobrar um dos mapas e guardá-lo no bolso se o objetivo é achar a recompensa?! Que burrice agir assim!  É natural  que haja o desejo de apagar alguns arquivos salvos de forma privilegiada, mas eles podem ser aproveitados.  Minhas instruções: Abra o mapa, leia e releia o conteúdo, todos os dias, se for possível. Não há mal nisso!

       O Significado de trauma é “Agressão ou experiência psicológica muito violenta”. Um trauma nunca é esquecido, aprende-se a conviver com ele. Quem gosta de resumo tem preguiça de ler, de enxergar. Não se encontra felicidade na ausência de problemas, e sim apesar dos problemas. Concordo que não lembrar de determinadas situações, às vezes, evita interiorizações conturbadas, mas mesmo assim acredito firmemente que se usadas de forma adequada podem abrir portas, janelas e qualquer outra oportunidade para que se escape das prisões invisíveis. "Não existe crescimento sem a dor do aprendizado." Crescemos à medida que avançamos , e isto é o que há.
        
         Hoje saí com uma amiga, sentamos, conversamos, cantamos... foi bom, mas senti aquele gosto estranho, aquele sabor de nostalgia. Lembrei de coisas antigas, que me causaram um sentimento estranho. Que eu ,por muito tempo, não quis lembrar. Lembrei. E não me senti pior por isso, acabei fazendo uma rápida reciclagem enquanto estava sentado lá com ela.Foi bom. E é bom reciclar. É uma pena que eu tenha me martirizado tanto até aprender que os sofás altos são os mais confortáveis, e para que eu tenha um sofá bem acolchoado é necessário alimentá-lo, pôr muita espuma em seu interior. Acho que meu sofá ficou mais confortável hoje, quero que amanhã seja assim de novo. Quero que seja mais alto a cada dia, que ele se torne cheio, alto e ao mesmo tempo leve. Que eu me torne política e ecologicamente correto comigo mesmo, que eu recicle o lixo que esteve de certa forma, armazenado em mim. Eu tenho perguntas, porém as respostas também sempre estão aqui, e a da incógnita de hoje é: nem sempre. Nem sempre preciso resumir, nem sempre o apóstrofo é útil.




                     Como encher o  sofá se você tenta jogar as espumas fora?

domingo, 23 de janeiro de 2011

Mesmo assim ela é bonita?


              Hoje me pergunto se apesar de todas as adversidades posso chamar a vida de bonita. Quero saber também se com toda falta de humanidade existente nos humanos podemos falar que gentileza gera gentileza .Estou agora, na frente do computador escrevendo e quanto mais escrevo mais percebo que nada faz sentido. Me pondo no lugar de  todas aquelas pessoas que  perderam casas, famílias e sonhos na região serrana do Rio questiono: Como posso afirmar que a vida é bonita? Desde criança que tenho contato absurdo com bulliyng e nunca agi desta forma com ninguém, pelo contrário: quase sempre,agi com gentileza com TODAS as pessoas na Escola, curso, pré-vestibular, Faculdade, Igreja. Sabe a que conclusão cheguei? GENTILEZA NÂO GERA GENTILEZA, o poeta / profeta estava ERRADO!. Sendo assim, repito, sem menor coesão, o que escrevi acima: Como posso afirmar que a vida é bonita?



           As marcas emocionais são, muitas vezes, como tatuagens. Algumas são de henna, mas outras são fixas, perpétuas. Apagá-las torna-se mais difícil .Mais  do que as literais. Contudo, elas são invisíveis e poupáveis ao mesmo tempo. Posso escondê-las e expô-las se eu quiser. Posso vislumbrá-las todos os dias e sofrer  ou posso olhar e aprender delas. Confesso que é muito mais fácil olhar e sofrer .Isto é óbvio. Até porque só é possível fazer diferente depois de um tempo de convívio (hoje, entendo). Por muito tempo escolhi não ver minhas tatuagens o que é impossível já que estas andam comigo diariamente, 24 h. por dia, tudo bem que não fico olhando-as o dia inteiro , nem todos os dias. Mas com freqüência olho, e evitá-las me fazia mais mal do que confrontá-las. Hoje as aceito. Não me acostumei ainda, simplesmente aceito, e aceito o tempo que preciso para conviver com elas sem sentimentos ruins. Isto as transforma em escolas. Podemos transformar qualquer experiência em aprendizado. Minhas tatuagens invisíveis aos outros me ensinam todos os dias, escolhi aproveitá-las, já que talvez elas fiquem aqui por tempo indeterminado. Tudo bem! Posso conviver com elas, posso até viver bem, r’s., mas não seria hipocrisia minha andar por aí com uma camisa que diz: “Gentileza gera Gentileza”? Acho que mais correto seria se fosse: “Gentileza, às vezes, gera gentileza”. A Resposta à Incógnita de hoje: Sim. Posso afirmar que a vida é bonita se eu conseguir lançar sobre ela um olhar inteligente, racional e sincero.

             Muitas tatuagens são ruins e pesadas , mas podem ser boas, dependendo de como se convive com elas. A vida é bonita se eu quiser que ela seja, mas se eu não fizer nada que contribua para isto será hipocrisia minha cantar por aí que ela “é bonita, é bonita e é bonita...”.




quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ciclos devem ser fechados?



           Não apago tudo de minha memória. Concordo que “tudo” engloba muita coisa e infelizmente tenho muito  armazenado. É certo que de algumas situações quase não lembro, mas de outras me vêm lembranças com freqüência. Às vezes mexer com o abstrato é tão perigoso quanto um canivete na mão de uma criança, contudo é tão necessário quanto evitar que estas manuseiem peças igualmente perigosas .  Pensar é bom, lembrar é ótimo, mas o que se faz com isso altera o produto. Posso recordar de  coisas que me fazem mal, sendo que posso usá-las pro bem, como caminhos. É como se minha vida fosse uma cômoda e esta possuísse gavetas, MUITAS GAVETAS, r’s., dentro de cada uma está guardada uma situação, uma ou mais lembranças, momentos que fizeram diferença , ruins e bons. Confesso que algumas gavetas dessas ainda estão abertas esperando o tempo de serem fechadas, arquivadas. Nem sempre eu consigo trancar algumas que insistem em ficar “arreganhadas”. Tem uma música que se encaixa perfeitamente com toda esta situação: “Palavras me aguardam o tempo exato pra falar, coisas minhas, talvez você nem queira ouvir...” , trazendo para o meu contexto: “Gavetas me aguardam o tempo exato para fechá-las, são gavetas minhas, talvez você nem queira saber o que há dentro delas...” é é assim mesmo. Meus problemas, crises, lembranças, momentos têm um tempo, preciso de um tempo para arquivá-los, preciso de espaço para que eu possa vê-los e não mais sentir dores, um dos segredos da paz é este: o tempo. Não quero escrever muito hoje, estou numa semana reflexiva, nostálgica e passar tempo demasiado perante minha cômoda pode não me fazer bem. Só queria dividir, compartilhar que algumas gavetas estão prontas para serem trancadas algumas, já fechei, mas outras continuam abertas por tempo indeterminado. Hoje não enxergo esta situação como se fosse ruim, acho que faz parte dos processos. Quando  um processo é finalizado significa que um ciclo foi fechado. Que ciclos se fechem, que digamos adeus ao que passou, mas isto no tempo em que deve acontecer. Que eu saiba “olhar o rio por onde a vida passar, sem me precipitar e nem perder a hora...”, que seja assim com você também. A resposta para a incógnita de hoje é: Sim! Ciclos devem ser fechados para que outros tenham espaço.