quinta-feira, 9 de junho de 2011

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         Eu gosto de ônibus, gosto porque sinto as pessoas nele, neste tipo de transporte. Gosto de passar pela roleta, sempre gostei, sempre quis passar por ela quando possuía o direito de não precisar atravessá-la. Sempre sonhei em empurrá-la com o meu corpo e meu corpo grita quando faço isso. Ele pede mais. Eu gosto de pagar passagem, me sinto dono deles, do ônibus e da roleta, me sinto seus responsáveis. Eu gosto. Eu me atraio por canetas. Gosto delas, quando era criança sentia prazer, parecido com orgasmo, mas não sexual, quando encontrava. Meu corpo tremia, minhas mãos pediam. Eu adorava canetas, meus olhos ardiam com a possibilidade de ter mais uma. Eu amo sorvete, não pelo sabor, mas pela essência. Pergunto-me quanto de energia é necessário para fazer com que ele chegue àquela textura. Acho um absurdo e simples ao mesmo tempo. Gosto do simples, gosto de sorvete. Gosto de escrever. Escrevo desde bebê, mas nesta época nem eu compreendia os signos feitos por mim, compreendo pouco até hoje. Gosto de pão francês. Gosto mesmo. Adoro chegar à Padaria e pedir: “Por favor, me dê um pão francês”, me sinto importante por ter o direito de comprar algo que tem em seu nome outra nacionalidade apesar de ser feito na rua de minha casa. Gosto. Gosto de ônibus, gosto de roletas, gosto de canetas, gosto de sorvete, gosto de pão francês. Gosto das coisas simples da vida. Gosto da vida. E eu sou dono delas todos os dias, posso comprá-las. Mas e as outras? As que não consigo comprar e se vão todos os dias?



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